Erguido no Eixo Monumental num projeto que chegará ao custo de R$ 1,6 bilhão, segundo previsão do Tribunal de Contas do DF (TCDF), o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha tem em seu currículo outro recorde, além de ter sido o mais caro construído no Brasil para receber as copas da Confederação e do Mundo. O da maior bilheteria da história do futebol nacional, R$ 6,9 milhões, ao registrar ontem 63.501 pagantes no jogo entre Santos e Flamengo, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro. O problema é que de todo esse dinheiro, apenas R$ 4 mil sobraram para os cofres do GDF. Esse foi o valor cobrado pelo aluguel do estádio.
A polêmica envolvendo a renda do jogo entre Santos e Flamengo no Mané Garrincha começou na definição do mando de campo entre Santos e Flamengo, estimulada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que quer ver cheios os estádios construídos para a Copa das Confederações e para o Mundial de 2014. Assim, a diretoria do clube da Vila Belmiro aceitou vender a renda da partida por R$ 800 mil à Federação Brasiliense de Futebol. A Federação Paulista de Futebol (FPF), por sua vez, recebeu R$ 200 mil.
Desde que começaram as vendas dos ingressos e os valores foram divulgados - entre R$ 160 e R$ 400, os mais caros do jogos recebidos pelas arenas da Copa - o assunto é puro mistério. Mas o que se sabe, até agora, é que a renda recorde não ficará nos cofres da FBF, nem na CBF, nem para o Santos, nem para o Flamengo e muito menos será revertida aos cofres do GDF, que com esse dinheiro poderia, por exemplo, construir um hospital inteiro, novinho em folha.
Para uma empresa
Só que a renda vai para a empresa Aoxy, do empresário Alberto Belotti, também conhecido por Tuca. Wagner Abrahão, também empresário e com trânsito livre na CBF desde os tempos de Ricardo Teixeira, é um dos diretores da companhia, que tem capital de giro de R$ 100 mil e sede em São Paulo.
Tuca Belotti aparece ligado à entidade que comanda o futebol nacional desde 2006. E com um escândalo. O empresário foi acusado na época da Copa do Mundo da Alemanha de estar, supostamente, envolvido em um esquema de ingressos concedidos pela CBF para cambistas.
Saia-justa
A arrecadação histórica, que seria motivo de satisfação para o Santos, mandante da partida, transformou-se em uma saia-justa para a diretoria porque o clube teria cedido o mando de campo para a Federação Brasiliense por cerca de R$ 800 mil. Odílio Rodrigues, presidente em exercício do Santos, defendeu-se, por meio da assessoria de imprensa.
"O Santos vendeu o mando de campo por um valor acima da média das arrecadações, inclusive do que o clube faturou na decisão do Campeonato Paulista, na Vila Belmiro", declarou.
O cartola também argumenta que os custos de organização seriam altos por se tratar de um evento-teste e, por isso, os ingressos estão acima do preço considerado normal.
Nossa Opinião: "O dinheiro é nosso! Gastar ou investir?"
Marcos Lombardi - Presidente do Jornal de Brasília e administrador de empresas
É dever do gestor público definir prioridades e linhas de atuação. Assim, neste momento, fica no ar uma pergunta: é importante para nós termos um estádio do porte do atual Mané Garrincha?
A resposta é não, mas ele, embora não seja importante para a cidade, acabou se tornando necessário, pois Brasilia é uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.
Assim o GDF definiu sua prioridade: temos uma linda arena desportiva na cidade.
Mas essa decisão nos faz pensar em quais deviam ser as prioridades de um governante. O que precisávamos mais: do investimento em educação, saúde e segurança ou de um estádio de primeiro mundo, com preço acima do normal?
Esta questão teve outra resposta em Pernambuco, onde o governador Eduardo Campos construiu uma arena de R$ 529 milhões, custo muito mais em conta que os R$ 1,6 bilhões dispendidos pelo GDF. Teríamos um estádio com 46 mil lugares e 6 mil vagas de estacionamentos e sobraria mais de R$ 1 bilhão para investir em educação, saúde e segurança.
Proponho, agora, caro leitor, um exercício simples. Vamos ver o que poderíamos comprar primeiro nesta três áreas.
Na segurança, poderíamos ter comprado 3 mil motos de 125cc trail a R$ 7 mil reais cada, com um custo final de R$ 21 milhões. Isso reforçaria sensivelmente o patrulhamento ostensivo, distribuindo-se mais de cem motos por região administrativa do DF. Para dar um reforço ainda maior, compraríamos 10 helicópteros Robison 44 para a Polícia Civil, com o custo por helicóptero na casa dos R$ 1,2 milhões, o que dá um gasto de R$ 12 milhões. Até agora, apenas com investimentos em equipamentos para a segurança, dispendemos R$ 33 milhões.
Vamos para a educação. Teríamos a chance de instalar 10 mil aparelhos de ar-condicionado em 10 mil salas de aula, acabando com o forno que existe em muitas escolas e proporcionando um ambiente propício para um aumento da produtividade dos alunos e mestres. Custo? Um aparelho por R$ 1 mil, 10 mil a R$ 10 milhões.
Em saúde, por exemplo, poderíamos destinar R$ 100 milhões para implementar o Programa Saúde da Família. Somando os gastos acima (R$ 33 milhões em segurança, R$ 10 milhões em educação e R$ 100 milhões em saúde) aos R$ 529 milhões para ter um estádio como o de Pernambuco, 46 mil lugares, de R$ 529 milhões, temos uma conta de R$ 672 milhões e quase R$ 1 bilhão em caixa para investimentos.
Como se vê, o estádio era importante para Brasília, mas o peso disso nas obras públicas não é justo para a população. O GDF gastou uma fortuna com pão e circo, como os governantes da Roma antiga. Aliás, só com circo, pois o pão anda escasso da mesa do povo.
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